O Sobre Gentes é um projeto que conta histórias curtinhas de gente de verdade, no Instagram e em livro. Sendo esse, o primeiro como Editora e que eu tive a honra de participar com a história:
Tenho muitas coisas... para viver
Há alguns anos, descobri que os objetos que temos ou queremos podem ser usados, também, como uma poderosa ferramenta de autoconhecimento. Essa descoberta não aconteceu da noite para o dia. Ela teve início em 2009, quando criei um blog de moda.
Naquela época, as empresas ainda não enxergavam o potencial dos blog. Mas não demorou muito para isso acontecer. Foi então que começaram a entrar em contato e chegavam a enviar linhas inteiras de produtos e convites para eventos.
Tudo era novidade! Eu tinha apenas 20 anos e o conteúdo que eu estava produzindo de forma despretenciosa estava sendo valorizado. Isso me levou a conhecer pessoas legais, viver experiências interessantes e a receber diversas propostas de trabalho na minha área: comunicação e design.
Com o passar do tempo, dos produtos que eu recebia, eu ficava com um ou outro e me desfazia do restante. Afinal, eu não ia usar tudo aquilo! Quanto aos eventos, o número foi aumentando e eu me vendo preocupada com a roupa que eu iria usar. Não por mim, mas pelas pessoas que estariam lá e isso não combina nada comigo.
Foi então que a tímida consciência que eu tinha sobre o consumo foi crescendo e eu comecei a me perguntar sobre a minha relação com as coisas e qual o papel delas em minha vida. Iniciei pelas roupas e segui por todo resto: o que reconheço de mim nas coisas que eu tenho? Quais eram os meus gostos na infância? Quais as minhas reais necessidades? O que motiva os meus desejos? Como a mídia e os padrões sociais influenciam nisso? O que está por trás da produção do que consumimos?
Os questionamentos eram infinitos, mas esses foram suficientes para me levar fundo a um processo sincero de autoconhecimento. Desapegar de objetos, pensamentos e algumas fórmulas de sucesso. E nortear transformações significativas na minha vida, como me organizar para trabalhar a distância, mudar de cidade e me aproximar da natureza.
Hoje, a quantidade de roupas que tenho caberia em duas malas de mão. Entendi que, para mim, a praticidade é mais importante que as aparências e que os objetos que decidimos guardar dizem muito sobre nossos valores. Tudo a nossa volta está a disposição para uma nova lição.
Se fosse preciso rotular, eu poderia dizer que sou minimalista, mas o objetivo nunca foi ter menos e, sim, reconhecer a minha essência a partir da compreensão do que é fundamental pra mim. Até porque, esse processo só me levou a ter mais mais: mais tempo, dinheiro, consciência, qualidade de vida e liberdade.